
O atractivo é mesmo a Quinta dos Gafanhotos, que felizmente resistiu à praga que assolou aquela zona, e nos faz esquecer da sua envolvência no minuto em que transpomos o portão de acesso. Ao longo de tantos anos permanece inalterável, transmitindo-nos a mensagem clara de que se lá está até hoje, então é para ficar. Constitui um marco histórico no panorama da organização de eventos, que sobressai pela sua unicidade nos arredores de Lisboa. Ao estilo de Dom Quixote, não esqueceu a sua nobreza e tradições, e manteve o seu estatuto alheando-se da realidade em seu redor, prosseguindo a sua ilusão de fidalguia numa orgulhosa mas redundante e infrutífera batalha contra os gigantes que lhe fazem sombra, mas que não lhe ofuscam o brilho.
A identidade do espaço perdura, e salvo a ocasional intervenção de manutenção, permanece o estilo arquitectónico antigo, um mobiliário tradicional e de requinte; um ambiente exterior que se resume a um pequeno pátio ajardinado em redor de uma piscina, e um interior clássico. Nada de extraordinário, mas agradável, confortável e muito exclusivo.
A Quinta oferece um serviço completo. Confecciona e serve as refeições para o evento, o que significa que não é necessária a contratação dum caterer externo. Oferece uma multiplicidade de outros serviços, desde a decoração, fotografia, animação e até fornecimento dos bolos de noivos, mediante o recurso a fornecedores próprios. Isto limita as opções de clientes que procuram personalizar as suas festas através duma introdução de fornecedores por si escolhidos. Introdução que não será pacífica, mas que é possível.
Registei com agrado que o espaço mantinha a sua sobriedade e elegância: ponto a favor para o(a) decorador(a). O fotógrafo não incomodou. A animação da casa não foi má, mas também não foi suficientemente boa para me encorajar a escrever mais do que isto. De resto, do que me lembro melhor, posso afirmar que foi nesta Quinta que provei o melhor Bolo de Noivos, e pelo que sei era também de fornecedor interno. O atendimento e acompanhamento por parte do serviço é expedito e atencioso. As refeições são confeccionadas para satisfazer um cliente exigente, cotando-se acima da média da generalidade. O bufete é rico e original. Apreciei particularmente umas omeletas preparadas em tempo-real, a meio da noite, e a panóplia de sobremesas. Destaco como pontos negativos uma recepção / aperitivo apressado sem razão aparente, e a pouca diversidade de bebidas tanto nesta fase, como no pós-refeição. Mas para contrabalançar, aponto novamente aspectos positivos. Apesar de localizada numa zona urbanizada, confere a sensação de isolamento e exclusividade à festa. Tem parqueamento (exterior) suficientemente grande para acolher um número elevado de veículos.
Não é para qualquer pessoa. Não é um espaço barato. A razão prende-se com a boa reputação que mantém há largos anos, mérito de uma administração bem relacionada. Mas não só. É certo que beneficia claramente da sua resistência ao fenómeno de progresso (ou degradação) que se manifesta por aqueles lados. Por outro lado, não deixa de ser privilegiado por uma localização estratégica na Linha, em zona limítrofe do concelho de Cascais (e fronteiriça com o Concelho de Oeiras). Concelhos que são habitados por classes letradas e com poder de compra, simultaneamente frustradas pela escassez de espaços de referência local, que possam concorrer com a Quinta dos Gafanhotos, Quinta de Manique, Quinta do Torneiro, ou Quinta da Estribeira, sem fugir para Sintra ou Lisboa, e que fazem destas as Quintas de sempre.
Apesar de todas as vicissitudes, a Quinta dos Gafanhotos é hoje indiscutivelmente conceituada, de reconhecida experiência - cabendo-lhe por diversas vezes a responsabilidade da organização de festas do Jet7 nacional, de celebridades e figuras mais ou menos conhecidas da nossa praça. Não que isso interesse muito, mas penso que é inegável o reconhecimento de que são estas gentes mais fúteis as que melhor sabem usufruir duma festa!
214 536 974
Daqui quem escreve é um elemento da tal classe média empobrecida que habita um dos tais blocos sujos e escuros, perto da Quinta dos Gafanhotos.
ResponderEliminarDeve ter um pouco mais de cuidado com o que escreve, pois esqueceu-se decerto de mencionar os lotes de apartamentos de alta qualidade a preços de 300.000euros com acabamentos de luxo, bem como as moradias unifamiliares isoladas que por ali abundam, pelo menos 3 delas vizinhas da Quinta.
Para um comentário à beleza da Quinta, poderia pelo menos ter feito um estudo um pouco mais exaustivo e contar a história da mesma e a razão que levou os seus proprietários a ter de se desfazer da propriedade...mas pronto, são pontos de vista.
Olá cris! Obrigado pelo seu comentário.
ResponderEliminarEmbora tenha registado a sua crítica e até reconheça que poderá fazer algum sentido, não posso concordar consigo, precisamente porque não partilho do seu ponto de vista.
Tenho algum conhecimento - ainda que superficial - da história do espaço e admito que uma boa investigação histórica mais exaustiva pudesse vir a valorizar a minha crónica se esta fosse sobre património, ou de interesse local. Porém, não consigo perceber em que medida esse contributo me faria mudar de opinião em relação à envolvência e à estética do espaço. A título de exemplo, acha mesmo que o conhecimento aprofundado de um passado tão rico como o da Quinta das Lágrimas consegue fazer-me deixar de considerar a utilização de uma tenda para a promoção de eventos como sentido estético duvidoso por parte dos organizadores? O conhecimento do passado apenas pode influenciar uma escolha, que será certamente motivada por outras razões que não a estética... Acha mesmo que o conhecimento do passado da Quinta dos Gafanhotos vai colorir o cinzento do betão que a abraça? Serei eu daltónico, ou será o meu caro amigo cego?
Relembro ainda que o teor do blog não visa abordar conteúdos relacionados com o mercado imobiliário (ou das suas especulações desproporcionadas face ao valor real dos bens, pelos seus agentes),
ou considerações sobre a história dos espaços, excepto se forem extremamente preponderantes (e que, devido a essa importância, sejam factores com influência muito forte no valor do espaço para o panorama dos eventos, em específico dos casamentos). E neste sentido, não sinto que recaia sobre mim o ónus de focar esses aspectos, excepto num ou outro caso mais particular, por considerar que possam efectivamente trazer algum significado substancial. E retomo o exemplo da Quinta das Lágrimas, cuja história será certamente digna de um relato neste âmbito, pois terá influência em casais de Coimbra mais românticos, que não sejam indiferentes aos episódios ali vividos noutras épocas. Mas ainda assim, não desejaria maçar o caro visitante com o relato detalhado do passado deste espaço. Nesta linha, acredito que quem procura um conhecimento profundo de determinado espaço, não procura a fonte desse conhecimento num blog desta natureza.
Por último, gostaria de lhe pedir que não se sentisse incomodado pela minha observação genérica à classe média. É evidente que a minha intenção passa apenas por demonstrar que aquela é uma zona de contrastes, como até o meu caro sugere. E se abrirmos bem os olhos perante a realidade actual, podemos generalizar ainda mais, visto que todas as classes societárias estão empobrecidas. :)
Gostei muito da crónica. Bem escrita, bom sentido de observação e espírito crítico.
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